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Nova Andradina recebeu, na última sexta-feira (22), a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Enersul da Assembléia Legislativa MS, que realizou uma Audiência Pública na Câmara Municipal. O Plenário ficou lotado, com a presença de lideranças, autoridades, empresários e cidadãos comuns. A Deputada Dione Hashioka (PSDB) que anunciou a abertura dos trabalhos, fez um breve relato sobre a viagem à Brasília, onde esteve juntamente com demais membros da CPI, informando o andamento da investigação. O prefeito de Nova Andradina, Roberto Hashioka, ao saudar os deputados, lembrou que “energia cara significa comprometimento com o desenvolvimento, pois onera o faturamento da empresa. Ou a Enersul ganha muito ou tem problemas de gestão”, disse ele. Os deputados da CPI são unânimes em afirmar que, caso não consigam a redução nas tarifas da Enersul, são favoráveis à retomada da concessão. O empresário moveleiro Aristeu Lourenço, em seu depoimento, afirmou que as empresas de Mato Grosso do Sul pagam 50% a mais pela energia elétrica, em relação à Santa Catarina. Nas tarifas residenciais o percentual é maior, chegando a 70%. “Perdemos competitividade por causa do câmbio, do diesel, já que no Paraná, o valor do produto é de R$ 1,75 contra R$ 2,12 em Mato Grosso do Sul. Guido Pelliciari, que é produtor rural, afirmou aos membros da CPI que já protocolou oito denúncias na Agepan e seis na Aneel contra a Enersul, mas nenhuma teve resultado. Segundo ele, são constantes os problemas na rede elétrica, causando queima de equipamentos, resultando em prejuízos que não são restituídos pela Enersul. Outro produtor rural que também demonstrou irritação com o atendimento da Enersul é Edgar Freire dos Santos. Segundo ele, foi necessário pedir atendimento particular para ver seus problemas resolvidos. “O valor recebido pelo leite, que é de R$ 0,30 o litro, não dá para pagar a conta de energia”, disse. Segundo ele, quando há algum defeito na rede de energia, os produtores rurais precisam ligar ou ir à Capital para conseguir fazer a reclamação. A Agente Municipal de Saúde, Edvânia Sales enfatizou que mora em um bairro pobre e a energia é muito cara. Segundo ela, a maioria das famílias passa dificuldades e, mesmo economizando, fica difícil arcar com despesas de energia elétrica. Ela reclamou que a conta de energia está recheada de impostos, e que a população não entende e a Enersul não explica. Adilson Remeli, Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Nova Andradina, denunciou a confusão entre linhas doadas pelos programas do Governo Federal e as redes particulares. A Enersul faz distinção de atendimento quando a rede de energia foi instalada com recursos próprios dos clientes ou quando foi realizada com verba do Governo. Remeli afirmou que “a CPI é a única arma que temos para interferir pelos clientes”. Ele pediu ajuda dos deputados para fazer com que a Enersul encampe todas as linhas. O Vereador novandradinense Tonho Ortega, ao fazer uso da palavra, mostrou-se indignado, afirmando que “não é possível que um estado que tem até usina hidrelétrica particular (Mimoso), tenha a energia elétrica mais cara do país e uma das mais caras do mundo. Representando o prefeito de Batayporã, Jercé Eusébio, Sídney Marques denunciou que seu município não tem escritório da Enersul e quando a população precisa fazer alguma reclamação, ou fica em silêncio, ou tem que viajar até Nova Andradina para defender seus direitos. O Senhor Malaco, de 75 anos, usando do seu bom humor que arrancou gargalhada dos participantes, fez sérias reclamações, lembrando que têm em sua residência, apenas cinco lâmpadas. Ao fazer a reclamação no escritório da Enersul, além de ser mal atendido, não teve seu problema resolvido e teve que pagar os 190 reais constantes na nota fiscal da Enersul. O Comerciante Roberto Pereira entregou documentos à CPI onde demonstram a disparidade na cobrança da energia elétrica. Segundo ele, o trabalho realizado em seu salão de Cabeleireiros, é o mesmo todo mês. Mas há uma grande oscilação no consumo que chega a variar em até 50 por cento de um mês para outro. No mês de abril sua conta demonstrava um consumo de 610 kwa enquanto que em junho reduziu para 300 kwa. A dona de casa Dorvali da Silva que mora no Bairro Morada do Sol, afirmou que está lavando roupa na mão para economizar energia elétrica. Disse que tem máquina de lavar, mas não pode usar. Tem ventilador, mas não pode ligar porque “senão não dá conta de pagar a conta”. O economiário Eduardo Reche, também demonstrou sua indignação afirmando que “o grande culpado pelo preço abusivo é a Aneel que autoriza o aumento. Ela é cúmplice da Enersul”. Segundo ele, outro culpado é o Governo anterior. “Eles comemoravam o aumento da energia porque subia também o ICMS do Estado” disse. O Senhor Sinforiano Romero, de Batayporã, também levou documentos à CPI. Entre eles estão cópias de reclamações e petições contra a Enersul e a Aneel. “Em 2001, pedi a aferição do meu relógio por entender que algo estava errado. Depois que fizeram o serviço, o valor da minha conta de energia dobrou”. Segundo ele, como o cidadão comum não tem dinheiro para pagar advogado, não tem como enfrentar as grandes empresas. Durante toda a audiência, o atendimento aos clientes foi alvo de reclamações de praticamente todos os depoentes. Jairo Bonfim não fugiu à regra e ainda completou que o corte da energia é um dos grandes aborrecimentos dos usuários. Segundo ele, muitas vezes a empresa determina o corte e não adianta argumentar. Todos os vereadores de Nova Andradina participaram da Audiência Pública que teve quase quatro horas de duração. “O que está acontecendo hoje é uma prova de que a Enersul não está cumprindo o contrato assinado na concessão do serviço público”, disse o vereador Tito José, solicitando que a CPI realize uma Audiência Pública em Anaurilândia. Segundo ele, não dá pra entender porque a energia elétrica da cidade de Rosana-SP, é bem mais barata que a de Anaurilândia, cerca de 20 por cento, sendo que as duas são atendidas pela mesma empresa e a energia sai da mesma hidrelétrica (Sérgio Mota). Segundo o Vereador Adriano Palopoli os deputados, membros da CPI, vão na contramão do momento, lembrando que, “embora os políticos estejam desgastados e desacreditados, estes Parlamentares que formam esta CPI demonstram interesse público em resolver um dos maiores problemas enfrentados pela população de Mato Grosso do Sul que é o alto custo da Energia Elétrica. Ninguém quer parar de pagar, só que tem que ser um preço justo” disse. O vereador João Lúcio Santolini questionou o método usado pela Enersul que exige que o consumidor pague pelo transformador e logo em seguida faça a doação do equipamento para a empresa. Pequeno produtor rural, Santolini disse que há dois anos pagava R$ 80 de energia, agora, com a mesma produção e mesmos equipamentos de consumo, tem que desembolsar cerca de R$ 270 por mês só para a energia elétrica. Sobre as doações, a deputada Dione Hashioka lembrou que a Enersul pode estar recebendo essas doações, tanto de transformador quanto de rede elétrica e depois apresenta-los como investimento para justificar os aumentos na tarifa. O Vice-prefeito Helder José Faria fez um comparativo entre os dias atuais e décadas atrás lembrando que o preço da energia, com toda dificuldade “era muito menor apesar de termos eletrodomésticos que consumiam talvez mais que o dobro de energia, mesmo contando com toda a tecnologia atual. Nunca confiei tanto em uma CPI como nesta” finalizou Helder. O vereador Luis Tadao defendeu o trabalho da CPI e pediu a “abertura da Caixa Preta da Enersul”. Já a Vereadora Célia Dan desejou sucesso à CPI e solicitou que os deputados pleiteiem tarifas sociais para famílias carentes. Os membros da CPI consideraram altamente positiva a Audiência Pública em Nova Andradina.